Ladeiras poeirentas dissimulam tua falta de estrutura. - Ali? Ali não mora
ninguém.
Fingem! Por entre uma porção de tijolos e tábuas se escondem as gentes.
Entre valetas e vielas. Não te dizem “favela”. É cidade, é saneada.
Mentem! Tua lama viva que se acumula nas esquinas, nas bocas, nos bueiros, prova: é viva comunidade, resquício de Cortiço.
Fingem! Por entre uma porção de tijolos e tábuas se escondem as gentes.
Entre valetas e vielas. Não te dizem “favela”. É cidade, é saneada.
Mentem! Tua lama viva que se acumula nas esquinas, nas bocas, nos bueiros, prova: é viva comunidade, resquício de Cortiço.
Ignoram! As gentes se acumulam em
coletivos que desviam de buracos e corpos.
Onde se misturam os sotaques, os
falares - dos outros - há uma paz calada.
Rezam! Igrejas, e bares, e
prostíbulos: uma linha tênue entre o Céu e o Inferno é a minha periferia.
Omitem! São largos terrenos baldios
cercados por muros onde descansam os vadios.
Numa rua que sobe, mas nunca ascende, lá pela tarde, se escuta o galo rouco cantando.
Numa rua que sobe, mas nunca ascende, lá pela tarde, se escuta o galo rouco cantando.
Renascem! Todo dia brota uma nova
vida onde se afia a faca e se abastece o revólver – é tudo vontade de
sobreviver e não deixar barato o descaso.
Vingam! O barulho encobre a voz da suave
desgraça de ser parte desse mato incortável da periferia. Gente que é mato.
Matam! E à noite, quando voltam os rostos cansados,
vê-se ali a essência que mantém o círculo infinito da vida: uma busca incansável
de não se sabe bem o quê.
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