terça-feira, 13 de agosto de 2013

Creep


Comigo me desavim,
Sou posto todo em perigo; 
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
[...]
Que meio espero ou que fim 
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?




Carrego os traços sórdidos
de uma família de desajustes
Mistura infinda de etnias
Disforme composição
Sobreposição de membros
Tortos formatos semi-humanos
Caminhando pela rua lotada
Risos de escárnio se propagam
Na medida em que o passo aperto.
Marcas salpicadas que populam
A pele crespa em desalinho
Saltam fios rebeldes de cobre
da fronte larga e côncava
E quando me encontro
Por algum motivo, me encontro
Rindo da tristeza de nascer
São sulcos que brotam
Cavas nas maçãs podres da face
E se em pranto, vermelha córnea
Salta-me do crânio - cuidado!-
Quer engolir as pessoas em volta
Do nariz curvo, em sangue e cravos
Escorre a síntese do desprezo
Que corre para a arcada
De dentes amarelos e dispersos
Cobertos por uma massa de lábios
Ressequidos, murmurosos.
Quando em decúbito
Se acumula a pele que sobra
Resquício de gente que nunca foi.
Assim permaneça, o dia em que eu for
Serei lembrada por não haver,
Nem um dia sequer,
Gozado de qualquer beleza de ser.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O amor em silêncio

"Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos"


Jure não falar de amor – do nosso amor
Talvez o silêncio, “música da alma”, diga mais.
 Não grite nosso amor aos quatro cantos
Deixe em paz a rosa dos ventos

Não pendure as fotos do amor em público
Que
o que não está à venda, não carece de propaganda
Pertence a nós dois e se esparrama pelo chão do lar
Escorre pelas mobílias e impregna tudo que nos cerca

Não macule o caule da árvore com nossos nomes
Deixa que os rebentos exponham o amor que se une
Que os frutos sejam a materialização do sentimento
E que o amor se manifeste entre os tijolos da casa
Que amor seja a liga que os mantém firmes

Não exponha nosso amor com palavras
Que falar é apenas vibrar cordas
E muitos, surdos, céticos, não dariam fé
Não exponha o amor em beijos públicos
Que, em segredo, a intimidade mantém viva a chama

Não ostente a felicidade de sabê-lo.
Guarda o amor, não o manche com versos
Apenas alimenta-o com orações e compreensão.
Coloca o amor num oratório e cultua-o
Que nada é mais sagrado que o verdadeiro amor