terça-feira, 13 de agosto de 2013

Creep


Comigo me desavim,
Sou posto todo em perigo; 
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
[...]
Que meio espero ou que fim 
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?




Carrego os traços sórdidos
de uma família de desajustes
Mistura infinda de etnias
Disforme composição
Sobreposição de membros
Tortos formatos semi-humanos
Caminhando pela rua lotada
Risos de escárnio se propagam
Na medida em que o passo aperto.
Marcas salpicadas que populam
A pele crespa em desalinho
Saltam fios rebeldes de cobre
da fronte larga e côncava
E quando me encontro
Por algum motivo, me encontro
Rindo da tristeza de nascer
São sulcos que brotam
Cavas nas maçãs podres da face
E se em pranto, vermelha córnea
Salta-me do crânio - cuidado!-
Quer engolir as pessoas em volta
Do nariz curvo, em sangue e cravos
Escorre a síntese do desprezo
Que corre para a arcada
De dentes amarelos e dispersos
Cobertos por uma massa de lábios
Ressequidos, murmurosos.
Quando em decúbito
Se acumula a pele que sobra
Resquício de gente que nunca foi.
Assim permaneça, o dia em que eu for
Serei lembrada por não haver,
Nem um dia sequer,
Gozado de qualquer beleza de ser.

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